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Vinho e Saúde

 “O vinho é algo extraordinariamente adequado ao homem, na saúde e na doença, se bebido de acordo com a constituição de cada indivíduo”.                                                 Hipócrates (460-367 A.C.)

Vinho e Saúde

 

Quando falamos em dieta e reeducação alimentar, uma das principais resistências que vejo no consultório está diretamente relacionada ao consumo de bebidas alcoólicas. Muitas pessoas acreditam que, quando vão iniciar um tratamento dietético, têm que parar absolutamente com a ingestão bebidas alcoólicas. Como se tivessem que largar sua vida social, seus encontros amorosos, momentos de distração com amigos, como se tudo isso não pudesse mais fazer parte do seu cotidiano. Uma das sugestões que costumo falar aos pacientes, é o uso consciente do vinho.     


O vinho é hoje, sem dúvidas, entre todas as bebidas, a mais favorável à saúde. Isso se bebido junto com as refeições, regularmente, com moderação e por quem não tem contra-indicação à ingestão de bebidas alcoólicas.

    

Hoje, a produção de trabalhos científicos que tem relação direta e indireta com o consumo de bebidas alcoólicas, principalmente o vinho, e a saúde é crescente e chega à casa das centenas de milhares. Alguns estudos revelam que ingestão moderada de bebidas alcoólicas, sobretudo vinho, reduzia o risco de morbimortalidade cardiovascular em 40 a 60%.

A dose baixa de álcool e os polifenóis são os grandes responsáveis – mas não os únicos – pelos benefícios do vinho para a saúde.

 

 

Polifenóis

 

Os polifenóis tornam o vinho uma bebida e um alimento diferente de todos os outros.

 

São os polifenóis que, em harmonia com o álcool e outros compostos, fazem do vinho o verdadeiro “néctar dos deuses”. Os polifenóis existem apenas no reino vegetal, onde se identificam mais de 8.000 tipos.

Nos vinhos já se identificaram cerca de 200 polifenóis. Eles tem origem quase que exclusivamente –  cerca de 95% – nas cascas e sementes das uvas. É por isso que os vinhos tintos têm cerca de 10 vezes mais polifenóis que os vinhos brancos (que fermentam na ausência das cascas e sementes das uvas).

A união harmoniosa do álcool com os polifenóis é certamente o que torna esta bebida única, tão apreciada e reverenciada ao longo de toda a história da humanidade    O álcool é o melhor solvente dos polifenóis. Assim, se de uma mesma uva se fizer quantidades iguais de suco e vinho, teremos mais polifenóis no vinho por causa do álcool.

Imagine agora uma taça com suco de uva e outra com vinho com a mesma quantia de polifenóis. Teremos mais benefícios bebendo o vinho porque na presença de álcool, o organismo absorve mais os polifenóis e na presença de polifenóis, o organismo absorve menos o álcool. 

 

Vinho e Radicais Livres
 

Radicais Livres são espécies químicas que tem elétron sem par. Por isso são muito reativas, instáveis. Causam uma série muito grande de danos ao organismo. Mais de 60 condições clínicas estão relacionadas ao seu efeito deletério na saúde, entre esses alguns reumatismos, cânceres, aterosclerose, doenças cardíacas, catarata e envelhecimento.

Os polifenóis do vinho tem uma potente ação antioxidante, ou seja: neutralizadora de Radicais Livres. Desse modo eles se tornam uma barreira aos danos orgânicos causados por essas substâncias.

 

Vinho e o Coração
 

Foi nas doenças cardíacas onde primeiro se observou os efeitos benéficos da ingesta regular e moderada de bebidas alcoólicas, mormente o vinho.

 Já se evidenciaram os seguintes mecanismos para a proteção cardiovascular oferecida pelo consumo moderado de vinho:

Aumento do Colesterol HDL, principalmente as frações HDL2 e HDL3 –Diminui o Colesterol LDL e sua oxidação – situação inicial do processo de aterosclerose.

Diminui a agregação plaquetária e o fibrinogênio e aumenta a atividade fibrinolítica e antitrombina. 

Modifica a camada interna dos vasos sanguíneos – o endotélio, alterando a produção de óxido nítrico e diminuindo outras moléculas de adesão ao endotélio, dificultando dessa maneira a aterosclerose.

Aumento da resistência e elasticidade da parede vascular.

Dilata os vasos sanguíneos diminuindo a resistência ao trabalho do coração.

 

Vinho e Acidente Vascular Cerebral (AVC)
 

Os acidentes vasculares cerebrais podem ser isquêmicos (quando há uma obstrução de um ou mais vasos diminuindo o aporte sanguíneo no tecido cerebral) ou hemorrágicos (quando um ou mais vasos rompem e extravasam sangue no sistema nervoso). Os AVC isquêmicos representam 70% das ocorrências dessa patologia.

As pessoas que tem o hábito regular de beber vinho moderadamente tem 40 a 60% menos riscos de desenvolver AVC isquêmico. Já o consumo abusivo (mais de 5 copos por dia) aumenta o risco de AVC hemorrágico.

 

Vinho e Pressão
 

A relação da ingesta moderada de bebidas alcoólicas, inclusive vinho, com a pressão arterial não está definitivamente esclarecida. Existem muitos estudos, alguns contraditórios.

Não há dúvidas que o consumo aumentado de álcool (50g ou mais por dia, que equivalem a mais de 5 copos de vinho) aumentam a pressão arterial.

Estudos feitos em várias partes do mundo sugerem que a ingesta baixa de bebidas alcoólicas (até 30g de álcool ou 3 copos de vinho por dia) baixem a pressão arterial, tanto a Sistólica (máxima) como a Diastólica (mínima).

    

Vinho e Câncer
 

Apesar dos avanços da Medicina o câncer ainda é a segunda causa de morte no mundo, depois das doenças cardiocirculatórias, representando um grande problema de saúde.

As pessoas que tem o hábito regular de beber vinho moderadamente junto com as refeições tem 20% menos chance de desenvolver câncer de qualquer tipo. E essa proteção se deve aos polifenóis que agem bloqueando tanto o início, como o crescimento e disseminação da doença.

Alguns cânceres tem relação direta com o consumo de bebidas alcoólicas. Isso significa dizer que quanto maior a ingesta de álcool maior o risco de ter a doença. Entre eles estão os cânceres de boca, pulmão, próstata, mama e intestino. Essa relação é verdadeira apenas para as cervejas e destilados. O vinho mostrou uma proteção ao desenvolvimento destas ações. As mulheres que tem o hábito regular de beber vinho moderadamente tem 50% menos chance de desenvolver câncer de ovário segundo a Dra. P. M. Webb. Um estudo feito na Universidade de Davis mostrou que ratos cancerosos que receberam uma dieta com extrato seco de vinho tiveram uma sobrevida significativamente superior ao grupo controle.

 

Vinho e Obesidade
 

O vinho, principalmente o tinto seco (que é menos calórico), em quantidade que não ultrapasse 10% do valor calórico de toda a dieta, é muito favorável para o obeso. Muitas clínicas de emagrecimento incluem o vinho no seu cardápio.

 

Vinho e Envelhecimento
 

Quem bebe vinho às refeições, moderadamente e regularmente, morre mais tarde e tem melhor qualidade de vida.

O envelhecimento das células, dos tecidos e do organismo como um todo é uma ação dos Radicais Livres. O organismo produz substâncias que são neutralizadoras dos Radicais Livres. Mas esta produção diminui com o aumento da idade. Isso é trágico, pois desse modo ficamos mais expostos aos processos biológicos do envelhecimento conforme envelhecemos. Como os vinhos, mormente os tintos, são ricos em polifenóis que são potentes eliminadores de Radicais Livres, é fácil entender o efeito anti-envelhecimento dessa bebida.

As localidades no mundo onde as pessoas são mais longevas são, quase todas, regiões vitivinícolas.

    

Vinho e a Saúde da Mulher
 

As mulheres que bebem vinho com moderação e regularmente tem atenuadas as manifestações do climatério e da menopausa. Estas manifestações ocorrem quando os ovários entram em falência e diminuem a produção de estrógeno – o hormônio feminino. Esse efeito se deve ao Resveratrol, que existe em abundância principalmente nos vinhos tintos, e tem uma semelhança estrutural e funcional com o hormônio feminino, sendo por isso reconhecido como um fito-estrógeno.

A osteoporose é uma situação clínica onde há perda de massa óssea, favorecendo as fraturas. Ela ocorre com mais freqüência em pessoas acima dos 45 anos, principalmente em mulheres, sobretudo na menopausa, quando diminui muito a produção de estrógeno, que são importantes na manutenção da arquitetura óssea. 

Esse efeito protetor do osso se deve a três dos componentes do vinho:

Álcool;

Quercitina e

Revesratrol.

O álcool, em doses baixas (até 30g por dia), age principalmente inibindo a atividade dos osteoclastos – as células que destroem o osso. Acima dessa dose o efeito é danoso ao metabolismo ósseo e aumenta os riscos de fraturas. Isso ocorre porque em doses altas o álcool passa a ter um efeito tóxico direto e indireto sobre o osso. Essa ação é do álcool e, portanto comum a todas as bebidas alcoólicas.

A Quercitina é um polifenol da uva encontrado em quantidade apreciável nos vinhos tintos. Ela tem efeito direto sobre o osso aumentando a ação dos osteoblastos (células formadoras de ossos) e inibindo os osteoclastos (células que destroem o osso). 

O Resveratrol tem uma estrutura química e funcional semelhante as dos hormônios femininos, que como bem sabemos são usados para tratamento da osteoporose pela sua capacidade de evitar a perda e de regenerar o tecido ósseo.

    

Vinho e as Infecções
 

Desde a antiguidade se reconhece no vinho um efeito anti-infeccioso. Acreditava-se inicialmente que este efeito devia ao seu pH muito ácido (2,7 a 3,2) e ao álcool. Estas seriam condições muitos hostis às bactérias, que aí não conseguiriam sobreviver. Isso funciona para alguns microrganismos. Mas na verdade, a principal ação anti-infecciosa do vinho se deve aos antocianos, que tem uma atividade bacteriana direta, quando na presença do álcool. Esse Polifenol encontra-se na casca da uva e é o responsável pela sua cor e pela do vinho. A natureza, sabiamente, colocou este antibiótico natural na casca das uvas, como um mecanismo de proteção. Certamente este é um dos fatores que a torna tão resistente e permitiu que ela atravessasse os tempos, desde a pré-história.

O vinho e o suco de uva, mesmo a diluições muito altas, como 1:1000, inativam uma série grande de vírus, entre eles o herpes vírus simples tipo I (causador do herpes labial), Poliovírus I (causador da poliomielite), o Echovirus, Coxsachie B5.

Os grandes responsáveis por isto são as procianidinas, polifenol abundante no vinho e no suco de uva. Elas se ligam a capa dos vírus, impedindo-os de entrarem nas células, onde causariam a infecção.

Um estudo feito durante os anos de 1998 e 1999 na Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, com 4272 professores de cinco Universidades daquele país, evidenciou que quem tomava mais de 14 taças de vinho por semana tinha 40% menos resfriado do que os abstêmios e os que bebiam cerveja ou destilados. Eles observaram também que este efeito era mais significativo para os que tomavam vinho tinto.

 

Vinho e Pele
 

Um dos efeitos mais espantosos do vinho é na pele. Ele é tão impressionante talvez porque ela está exposta e nela se pode observar diretamente os resultados. O colágeno e a elastina são substâncias que dão consistência e elasticidade à pele. A colagenase e a elastase são enzimas que destroem o colágeno e a elastina, respectivamente, fazendo com que a pele fique atrófica e menos elástica. Os polifenóis do vinho bloqueiam a ação da colagenase e da elastase, deixando a pele mais elástica e consistente. Além disso, eles melhoram a sua microcirculação e a hidratação. Esses efeitos ocorrem por via tópica (direto na pele) e são potencializados (aumentam em muitas vezes) se também se ingerir polifenóis – e a maneira mais agradável é, sem dúvida, bebendo vinho moderadamente.

O Resveratrol elimina alguns fungos como o Tricophyton SP, Epidermophyton floccosum e microscoporum gypseum, causadores de micoses cutâneas.

 

Efeitos do Álcool no Vinho 
 

De todos os componentes do vinho, um único existe em quantidade suficiente para causar dano à saúde: o álcool. Este é o grande problema do vinho e pode ser o do enófilo.

O álcool é quase totalmente absorvido pelo estômago e duodeno (porção inicial do intestino, que segue o estômago) e metabolizado fundamentalmente pelo fígado. A absorção do álcool é mais lenta na presença de alimentos, sobretudo os gordurosos, o leite e derivados. O jejum faz com que a assimilação pelo organismo seja mais rápida. O fato de ter alimentos no estômago pode dobrar o tempo de absorção do álcool. A presença de polifenóis, abundante nos vinhos, sobre tudo os tintos, também diminui a absorção do álcool. 

O álcool quando ingerido numa quantidade superior ao que o organismo consegue metabolizar pode causar dano orgânico, mental, social, familiar e profissional – não vale à pena!

É altamente recomendável que pessoas que tem o hábito regular de tomar bebidas alcoólicas por prazer ou necessidade profissional, que evite fazê-lo com o estômago vazio, que dê, sempre que possível, tempo para o organismo metabolizar o álcool e que faça uma dosagem semestral da Gama-GT.

 

Mas afinal, o quanto é seguro beber?
 

Pode-se responder de duas maneiras essa pergunta:

Uma cientificamente correta: depende da capacidade de cada organismo de metabolizar o álcool;

E uma empírica, porém prática: dificilmente há dano orgânico com uma ingesta para:

  • Homens: de até 300ml de vinho por dia;

  • Mulheres: de até 200ml de vinho por dia.

 

Conclusão
 

Da mesma forma que se sabe que o consumo abusivo de álcool é danoso ao organismo há muitas evidências dos benefícios do consumo leve e moderado, mormente do vinho. Apesar disso ainda existe muita resistência de autoridades sanitárias e alguns médicos para dizerem que bebida alcoólica quando ingerida regular e moderadamente com as refeições é benéfica para a saúde.

O mais importante é saber que as virtudes terapêuticas do vinho só ocorrem se ele for bebido regularmente, com moderação junto com as refeições e se não houver nenhuma contra-indicação a ingesta de bebidas alcoólicas.

 

 Referência Bibliográfica: Jairo Monson de Souza Filho . "Vinho e saúde–como estamos em 2006."

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